Resenha:
O encerramento do mini-festival de jazz da Culturgest
ficou a cargo do lendário Bobby Hutcherson, mestre
incontornável da história jazzística
do vibrafone mas que parece vir gradualmente a eclipsar-se,
pelo menos no que a aparições discográficas
concerne.
Já distante da “vanguarda”, o que por si
não constitui uma novidade se atendermos ao percurso
musical que tem vindo a trilhar nos últimos anos, o
quarteto liderado por este vibrafonista praticou uma música
que em termos estéticos se circunscreve totalmente
a parâmetros de raiz clássica.
Foi então um Hutcherson de alma e coração
no “mainstream“ aquele que o público que
na passada sexta se deslocou à Culturgest pôde
encontrar, um músico longe do devaneio abstraccionista
tão característico das suas incursões
free na década de 60 e ao qual ficaram associadas obras
como “Dialogue” ou “Out to Lunch”,
só para citar duas das pérolas mais resplandecentes
da sua discografia.
Não se pense todavia que as suas superlativas qualidades
esmoreceram com o passar dos anos. Pelo contrário,
neste concerto mostrou porque é ainda uma figura mítica:
um domínio instrumental absoluto, uma segurança
gestual impressionante, e um fraseado límpido e sinuoso
sempre sujeito a fulgurantes irrupções virtuosistas.
Quanto ao reportório explorado, se exceptuarmos dois
temas de andamento pausado e de pendor mais suave, pautou-se
na sua essência por composições ritmicamente
vincadas e de carácter percussivo, muitas vezes desdobrando-se
em leitmotivs que serviam de referência não só
no curso das improvisações como também
na interligação entre as diversas intervenções
solísticas.
Dos elementos da secção rítmica exemplarmente
conduzida por Hutcherson, o destaque vai indubitavelmente
para Rénée Rosnes, não somente pelo precioso
e eficaz esteio harmónico que constantemente municiou,
mas igualmente pelo fraseado insinuante e fértil em
ideias, pontualmente reminiscente de McCoy Tyner. Drummond
foi de todos o mais discreto mas ainda assim omnipresente,
relevando-se a articulação precisa com que ataca
as notas e a sonoridade robusta emanada do seu contrabaixo.
Joel Farnsworth pareceu-me o mais regular dos quatro músicos
em palco, insistindo um pouco em demasia nas mesmas técnicas
percussivas, ainda que diligente e cumpridor nas funções
que desempenhou.
Em termos colectivos foi efectivamente um grupo coeso, que
não só trazia a lição bem estudada
como deixou a impressão de estar já bastante
rodado. Tratou-se pois de um concerto de jazz que, embora
sem surpresas ou novidades de qualquer espécie, foi
pródigo em bons momentos e onde se praticou uma música
de agradável fruição que cativou com
naturalidade o público presente.
João
Aleluia
Comentario:
El cierre del mini festival de la Culturgest corrió
a cargo del legendario Bobby Hutcherson, maestro indiscutible
en la historia jazzística del vibráfono, aunque
parezca eclipsarse gradualmente, al menos en cuanto a apariciones
discográficas se refiere.
Ya alejado de la “vanguardia”, lo que por sí
no es una novedad si atendemos a su recorrido musical de
los últimos años, el cuarteto liderado por
este vibrafonista tocó una música que, en
términos estéticos, se circunscribe totalmente
dentro de los parámetros del jazz clásico.
Así pues, fue un Hutcherson con alma y corazón
“mainstream” aquel que el público que
se desplazó a la Culturgest se pudo encontrar, un
músico alejado de los devaneos abstractos tan característicos
de sus incursiones free en la década de los 60 y
que tiene asociadas obras como “Dialogue” o
“Out to Lunch”, sólo por citar dos de
los discos más brillantes de su discografía.
Que no se piense que sus cualidades superlativas han disminuido
con el paso de los años. Al contrario, en este concierto
nos mostró por qué es todavía una figura
mítica: un dominio instrumental absoluto, una seguridad
gestual impresionante y un fraseado limpio y sinuoso siempre
sujeto a fulgurantes irrupciones llenas de virtuosismo.
En cuanto al repertorio explorado, si exceptuamos dos temas
pausados y de inclinación más suave, se movió
esencialmente por composiciones rítmicamente intrincadas
y de carácter percusivo, muchas veces desdoblándose
en motivos que servían de referencia, no sólo
en el curso de las improvisaciones, sino para enlazar las
diversas intervenciones solistas.
De los miembros de la sección rítmica, ejemplarmente
conducida por Hutcherson, destacó indudablemente
Rénée Rosnes, no solamente por la preciosa
y eficaz base armónica que continuamente aportó,
sino igualmente por su fraseo insinuante y fértil
en ideas, con reminiscencias puntuales de McCoy Tyner. Drummond
fue el más discreto de todos pero aún así
omnipresente, pudiéndose advertir la articulación
precisa con la que ataca las notas y una sonoridad robusta
emanada de su contrabajo. Joel Farnsworth me pareció
el más regular de los cuatro músicos sobre
el escenario, insistiendo un poco en exceso en las mismas
técnicas percusivas, aunque fue diligente y cumplidor
en las funciones que desempeñó.
En términos colectivos fue efectivamente un grupo
cohesionado, que no sólo se trajo la lección
bien estudiada, sino que también dio la impresión
de estar ya bastante rodado. Se trató pues de un
buen concierto de jazz que, aunque sin sorpresas o novedades
de cualquier tipo, fue pródigo en buenos momentos
y dónde se tocó una música muy agradable
que cautivó con naturalidad al público presente.
João Aleluia
Traducido por Diego
Sánchez Cascado y José Francisco Tapiz