Resenha:A
segunda noite de jazz na Culturgest, integrada no âmbito
da já habitual parceria entre esta instituição
e o Festival de Jazz de Guimarães, teve a particularidade
de apresentar ao público que aí se deslocou
duas faces distintas do jazz que se faz actualmente em França.
Nesta jornada dupla actuaram o pianista Martial Solal, na
primeira parte do espectáculo, e a Orchestre National
de Jazz (ONJ), na segunda.
Solal é um músico que quase dispensa apresentações.
Mais de cinco décadas de actividade, um vastíssimo
leque de colaborações nas mais variegadas formações
musicais, reconhecimento intra e além fronteiras, enfim,
uma figura histórica e incontornável do jazz
francês.
Nesta actuação na Culturgest o seu prestígio
não saiu minimamente beliscado. Com efeito, para além
do pleno domínio técnico e instrumental que
constitui uma das suas imagens de marca, o seu desempenho
ficou marcado por uma sólida dialéctica de processos
alicerçada não só na história/tradição
como também no instinto e no acto da criação
instantânea.
Ao longo desta performance, Solal exibiu de forma perfeita
alguns dos traços mais relevantes da sua música,
como a predilecção pela frase curta, a infinidade
de rumos que parece a qualquer momento poder tomar, os cristalinos
e inevitáveis glissandi que caracterizam as suas conclusões,
e o recurso constante a síncopas, viragens e inversões.
Extraordinária foi a forma como, paralela e simultaneamente,
improvisou sobre os clássicos “Blame It on My
Youth” e “Caravan”, alternando a exposição
de fragmentos melódicos dos temas originais (o que
permitia o seu reconhecimento auditivo) com virtuosísticos
e sinuosos improvisos, tudo isto de uma forma desconcertantemente
imprevisível. E não se ficou por aqui: mais
adiante, no que foi a sua última intervenção
antes do encore, não conseguiu resistir à tentação
de citar Monk enquanto desconstruía o clássico
“I’ve got Rhythm”...
Em suma, um concerto magnífico, merecendo igualmente
uma nota de apreço as excepcionais condições
acústicas do auditório da Culturgest, permitindo
que o som não necessitasse de qualquer amplificação.
2ª PARTE
Na segunda parte, a ONJ não teve engenho e arte
para dar seguimento ao nível performativo patenteado
por Solal.
Mas vamos por partes. O primeiro aspecto que me chamou a
atenção neste ensemble foi o seu line-up que,
se tomarmos em linha de conta o CD editado ainda no decorrer
deste ano pela editora ECM – “Charmediterranéan”,
apresenta como único ponto comum o trompetista e
vocalista Médéric Collignon. Tal revolução
deveu-se ao actual líder da orquestra, o guitarrista
e compositor Claude Barthélemy, que preferiu apostar
em jovens e ainda desconhecidos músicos em detrimento
de outros já consagrados que figuram naquele CD da
editora germânica, casos de François Jeanneau,
Olivier Benoît ou Christophe Marguet.
Debrucemo-nos então sobre o concerto propriamente
dito. Apresentando em palco uma distribuição
espacial curiosa e um pouco invulgar (de um lado os trompetistas
e trombonistas, no centro Barthélemy e Landsweerdt,
e no outro flanco os restantes músicos), o início
augurava os piores prenúncios para o que viria a
seguir: um som demasiado compacto, protagonismo excessivo
do líder, sucessão de pastosas e fastidiosas
secções, e pouco espaço para o solo
que, quando acontecia, se pautava pela mediania. Se é
verdade que nem todos estes indicadores se voltaram a verificar
durante o resto da actuação, ficou no entanto
a ideia que o trabalho de Barthélemy e da ONJ tem
ainda de atravessar alguns patamares evolutivos para atingir
outros níveis de consistência. É que
se há a reconhecer mérito e competência
no arranjo, disciplina e coordenação, outros
aspectos houve, para além dos supracitados, que me
suscitaram algumas reservas. Por exemplo, não me
pareceu bem sucedida a tentativa de quebrar alguma monotonia
que se pudesse ter instalado através da opção
por repentinos cortes entre secções. Mais
ainda, a inclusão de um acordeonista nesta big band,
que poderia ter municiado de uma vital e genuína
seiva folclórica a música praticada, pareceu-me
um equívoco. E, como corolário, os momentos
de maior interesse não tiveram a sua génese
no tutti orquestral, mas resultaram de intervenções
isoladas dos músicos. Nesta ordem de ideias, a primeira
nota de relevo vai para Collignon, o mais irreverente e
iconoclasta dos presentes em palco, denotando um estilo
de certa maneira evocativo de Phil Minton. Depois, e já
na derradeira sequência executada pela orquestra,
distinguiu-se o duo entre o contrabaixista Nicolas Mahieux
e o guitarrista Alexis Thérain pelo nível
criativo e comunicativo alcançado. Posteriormente,
e dentro desta mesma sequência, evidenciou-se o intercâmbio
ideológico estabelecido entre Barthélemy (trocando
aqui a sua guitarra pela oud) e o trompetista Geoffroy Tamisier
(atenção à sua prestação
no grupo Mukta de Brigitte Menon), transportando-nos para
um outro universo musical – o da cultura árabe-mourisca.
Como ressalva última, é de referir que no
contexto do jazz francês outros projectos da mesma
índole há que me parecem bem mais consistentes
e prolíficos que este, tanto na sua essência
como no resultado final, ainda que gozando de uma projecção
bem mais modesta - será o caso, por exemplo, de Le
Sacre du Tympan, liderado por Fred Pallem.
João
Aleluia
Comentario:
La segunda noche de jazz en la Culturgest, integrada en
el ámbito de la ya habitual colaboración entre
esta institución y el Festival de Jazz de Guimarães,
tuvo la particularidad de presentar al público que
allí acudió dos caras distintas del jazz que
se realiza actualmente en Francia. En esta jornada doble
actuaron el pianista Martial Solal en la primera parte y
la Orquesta Nacional de Jazz (ONJ) en la segunda.
Solal es un músico que casi no necesita presentación.
Más de cinco décadas de actividad, una vasta
cantidad de colaboraciones en las más variadas formaciones,
reconocimiento dentro y fuera de las fronteras, en fin,
una figura histórica e indiscutible del jazz francés.
En esta actuación en la Culturgest su prestigio
no quedó en absoluto en entredicho. En efecto, mostró
el dominio técnico e instrumental que constituye
una de sus características, sus evoluciones estuvieron
marcadas por una sólida dialéctica de procesos
cimentados tanto en la historia/tradición como en
el instinto y el acto de la creación instantánea.
A lo largo de esta actuación, Solal exhibió
de forma perfecta algunas de las características
más relevantes de su música como son su predilección
por las frases cortas, la infinidad de rumbos que parece
que en cualquier momento puede tomar, los glissandos cristalinos
e inevitables que caracterizan sus conclusiones y el recurso
constante de las síncopas, virajes e inversiones.
Extraordinaria fue la forma en que, paralela y simultáneamente,
improvisó sobre los clásicos “Blame
It on My Youth” y “Caravan”, alternando
la exposición de fragmentos melódicos de los
temas originales (lo que permitía su reconocimiento
auditivo) con improvisaciones virtuosas y sinuosas, todo
ello de una forma desconcertantemente imprevisible. Y no
se quedó aquí: más adelante, en la
que fue su última intervención antes de los
bises, no supo resistirse a la tentación de citar
a Monk mientras deconstruía el clásico “I’ve
got Rhythm”...
En definitiva un concierto magnífico, mereciendo
igualmente una nota de atención las excepcionales
condiciones acústicas del auditorio de la Culturgest
al permitir que el sonido no necesitase de amplificación
alguna.
2ª PARTE
En la segunda parte, la ONJ no tuvo ni el ingenio ni el
arte para continuar con el nivel de ejecución mostrado
por Solal.
Pero, vayamos por partes. El primer aspecto que me llamó
la atención de este conjunto fue su formación,
que comparada con la del CD editado este año por
ECM –“Charmediterranéan”-, presenta
como único punto en común al cantante y trompetista
Médéric Collignon. Tal revolución se
debe a que el líder actual de la orquesta, el guitarrista
y compositor Claude Barthélemy ha preferido apostar
por jóvenes casi desconocidos en detrimento de otros
ya consagrados que figuran en el compacto del sello alemán,
como son los casos de François Jeanneau, Olivier
Benoît o Christophe Marguet.
Hablemos ahora del concierto propiamente dicho. Situados
sobre el escenario con una distribución espacial
curiosa y poco habitual (a un lado las trompetas y trombones,
en el centro Barthélemy y Landsweerdt y, al otro
lado, los músicos restantes), el inicio auguró
los peores presagios para lo que vino a continuación:
un sonido demasiado compacto, protagonismo excesivo del
líder, sucesión de secciones pastosas y fastidiosas
y poco espacio para los solos, que cuando tenían
lugar, sólo alcanzaban la medianía. Si es
cierto que ninguno de estos aspectos se reprodujeron durante
el resto de la actuación, quedó la idea de
que el trabajo de Barthélemy y la ONJ tiene que atravesar
por una fase de evolución para alcanzar otros niveles
de consistencia. Hay que reconocer el mérito y la
competencia de los arreglos, la disciplina y coordinación
frente a otros aspectos que me suscitaron algunas reservas.
Por ejemplo, no me pareció bien resuelto el intento
de quebrar la monotonía que se pudiese dar a través
de la opción de efectuar cortes repentinos entre
las secciones. Asimismo, la presencia de un acordeonista,
que podría servir para incluir de un toque vital
y folclórico en esta big band, me parece una equivocación.
A consecuencia de ello, los momentos de mayor interés
no tuvieron su origen en los tutti orquestales sino en las
intervenciones aisladas de los músicos. Desde este
punto de vista, la nota más alta fue para Collignon,
el más irreverente e iconoclasta de los músicos
sobre el escenario, haciendo gala de un estilo que, en cierto
modo, evoca a Phil Minton. En segundo lugar, y ya en la
última parte ejecutada por la orquesta, destacó
entre todos el dúo entre el contrabajista Nicolas
Mahieux y el guitarrista Alexis Thérain por el nivel
creativo y comunicativo alcanzado. Posteriormente, y dentro
de esta misma secuencia, sobresalió el intercambio
de ideas entre Barthélemy (cambiando su guitarra
por el laúd) y el trompetista Geoffroy Tamisier (atención
a su prestación en el grupo Mukta de Brigitte Menon),
llevándonos a otro universo, el de la cultura árabe.
Como apunte final, he de señalar que, en el contexto
del jazz francés, hay otros proyectos de la misma
índole que son mucho más consistentes y prolíficos
que éste, tanto en su esencia como en el resultado
final, aunque tienen una proyección mucho más
bien modesta, caso por ejemplo de Le Sacre du Tympan, liderado
por Fred Pallem.
João Aleluia
Traducido por Diego
Sánchez Cascado y José Francisco Tapiz