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FRODE GJERSTAD TRIO

Ciclo "Jazz ao Centro – Encontros Internacionais de Jazz"
Centro Norton de Matos, Coimbra
8 de Novembro de 2003, 21h30
Assistência: aprox. 150 pessoas

Músicos:

  • Frode Gjerstad – sax alto, clarinetes
  • Oyvind Storsund – contrabaixo
  • Paal Nilsen-Love – bateria

Fotografías © Nuno Martins, 2003


Resenha - Reseña 

Portugués: Eduardo Jorge Chagas

Español: Eduardo Jorge Chagas - traducción: Diego Sánchez Cascado NO DISPONIBLE EN ESTE MOMENTO


  • Resenha: Chamou imediatamente a atenção e pareceu até um pouco estranho à primeira vista que os músicos, chegados ao palco, se tivessem posicionado fisicamente tão próximos, bateria, contrabaixo e sopros quase encostados uns aos outros. Não é muito comum que isso aconteça, descontadas as situações em que a exiguidade do espaço assim o exige.

    Não era este o caso, porque amplo é o espaço útil do auditório do conimbricence Centro Norton de Matos. E a imagem dos músicos assim dispostos em cena, acabou por funcionar como metáfora visual do que realmente aconteceu em palco: o trio do saxofonista alto e clarinetista Frode Gjerstad, com Oyvind Storesund, contrabaixo, e Paal Nilssen?Love, bateria, funcionou do princípio ao fim como um todo, tal o nível de coesão que demonstrou.

    Há males que vêm por bem: desmembrada a sua Circulasione Totale Orchestra, banda que se veio a revelar financeiramente desastrosa não obstante as gravações de grande nível que realizou para a editora norte-americana Cadence, Frode acabou por se ver forçado a trabalhar com um tipo de formação mais pequena, capaz de enfrentar as dificuldades por que passam os músicos de free jazz em qualquer parte do mundo, incluindo a rica e culta Noruega. Desta forma nasceu a ideia de explorar extensiva e profundamente as inúmeras possibilidades da arte do trio.

    Depois de ter corrido mundo com os trotters William Parker e Hamid Drake, e de, antes disso, ter integrado o famoso trio Detail, com John Stevens e Johnny Dyani, desde há alguns anos que o saxofonista nórdico tem vindo a assumir a liderança deste novo trio 100% norueguês. Uma máquina fluida, complexa e robusta, conjuntamente propulsionada pelo contrabaixo exuberante de Storesund, que vive tanto da forte marcação rítmica, como dos efeitos encantatórios induzidos pelo arco, e pelo percutir impressionante de Nilssen?Love, um dos grandes bateristas da cena actual.

    Gjerstad é um veterano da improvisação total. Ou seja, pratica habitualmente uma música não idiomática, de energia extasiante, amplo espectro dinâmico, com marcação poli-rítmica vertiginosa e uma sonoridade multidimensional profundamente enraizada nos referentes do free jazz e da livre improvisação acústica de matriz europeia.

    Construído a partir de longas peças musicais de criação espontânea, o discurso musical do trio evoluiu, ora num diálogo caleidoscópico a três vozes distintas, ora convergindo numa sonoridade colectiva de caudal imparável, espiritualmente rica e com uma intensidade próxima do paroxismo.

    Se a isto se somar o interesse de um público não muito numeroso mas entusiástico – notoriamente ávido de uma música que escape às rotinas pop e jazz habituais, e que seja capaz de colocar desafios interessantes e renovados a cada movimento – tudo se conjugou para que na grande noite de Coimbra o trio tivesse dado um concerto portentoso.

    Som, energia, liberdade, potência, velocidade e articulação em perfeita harmonia – as chaves do sucesso deste fenómeno de empatia interna e externa, que confirmou ao vivo o que em disco resultara igualmente brilhante. Ouça-se The Blessing Light: For John Stevens (Cadence), pelo mesmo trio que veio até nós, e ter-se-á uma ideia aproximada da avalanche sonora que tomou conta de Coimbra e das almas de que se quiseram abrir ao maravilhoso mundo da música improvisada.

    O que aconteceu desta vez no “Jazz ao Centro – Encontros Internacionais de Jazz de Coimbra - 2003”, está ao nível da excelência e resultou num dos melhores concertos do ano que corre.

    Para o mês que vem, a 6 de Dezembro, segundo o Programa, encerra o Jazz ao Centro com o muito aguardado quarteto de free jazz, MUJICIAN. Será a oportunidade de ver ao vivo e em longa metragem o que há dois anos Paul Dunmall, Keith Tippett, Paul Rogers e Tony Levin, deixaram entrever num pedacinho tocado no Jazz em Agosto, na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Será certamente o que se chama fechar com chave de ouro, porque é tremendamente rica a prestação destes quatro monstros das ilhas britânicas. Que não haja ausências por falta de aviso.

    Eduardo Jorge Chagas