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CECIL TAYLOR - TONY OXLEY
  • Fecha: 17 fevereiro 2004 / 17 de febrero de 2004
  • Lugar: Centro Cultural de Belém (CCB), Lisboa
  • Asistencia: 800 pessoas aprox. / 800 personas aprox.
  • Componentes:
    Cecil Taylor (piano)
    Tony Oxley (bateria / batería)


Fotografías © Nuno Martins, 2003


Resenha - Reseña 

Portugués: Eduardo Chagas

Portugués: João Pedro Viegas

Español: Eduardo Chagas - traducción: Diego Sánchez Cascado

Español: João Pedro Viegas - traducción: Diego Sánchez Cascado


  • Resenha: Está há muito esgotada a discussão sobre se o que Cecil Taylor toca é jazz ou música contemporânea. Outra coisa será, porque o que desde há décadas se conhece com a marca do mestre, e, em particular, o que se ouviu no Centro Cultural de Belém, na noite de 17 de Fevereiro de 2004, foi algo que está para além dos limites do jazz, um meta-jazz, se se quiser; mas que, por outro lado, também não se enquadra nos estritos parâmetros da música contemporânea ou da new music. É, diria, um tertium genus inclassificável, pesem embora as tentativas de arrumação nesta ou naquela categoria, tarefa por demais estulta.

    Cecil Taylor é, quase sempre, referenciado como um músico de Jazz. Este, quer-me parecer, estará para a música de Taylor, como o Latim está para as actuais línguas latinas. Isto é, está-lhe nas fundações, na estrutura, na massa do sangue que lhe circula nas veias, no ritmo interior, na respiração, pressente-se, mais do que se vê; está-lhe ainda nalgum vocabulário e na articulação expressiva. Porém, na raíz, corpo e espírito, no mais recôndito do ser, do que se trata é de música improvisada total, no que isto tem de reflexo num tempo presente e na mais remota ancestralidade.

    Foi esta música simultaneamente temporal e intemporal - no duplo sentido em que nela cabe o tempo todo, e que não pertence a tempo nenhum - a que nos foi oferecida em criação directa, imediata e espontânea, por Taylor & Oxley. Uma música tensa e ritualística, música sacra de culturas tribais imaginárias, que tanto podem ser do passado, como do futuro.

    A execução, organizada em dois sets de tema único, cuja duração me pareceu próxima dos 45 minutos cada (é-me difícil calcular, porque a certa altura perdi a noção do tempo), a que acresceu um breve encore, mostrou-nos dois criadores de comprovado e inquestionável virtuosismo técnico, em excelente forma física e criativa.

    Taylor fez uso intensivo dos seus inesgotáveis recursos pianísticos, com os característicos clusters de acordes dissonantes, em permanente discurso atonal, fortemente percussivo, que ora ascendia a cumes de intensidade emocionalmente opressiva, ora descomprimia, distendido em breves momentos de contido lirismo poético, libertário e encantatório.

    Do lado direito do palco, em absoluta compatibilidade, Tony Oxley, ícone do experimentalismo e da free improv britânica, contrapontuava de forma densa e polirrítmica, preenchendo o resto da tela com as cores personalizadas do seu kit. Produziu as mais requintadas sonoridades, dispostas em camadas de ritmo e melodia, plenas de detalhe e riqueza tímbrica e textural, fornecendo a Taylor o ambiente perfeito para sobre ele escrever e rescrever páginas e páginas da mais entusiasmante improvisação livre.

    A isto acresce a fantástica linguagem corporal do duo, como se os músicos estivessem a dançar um bailado de movimentos livres, uma dança mágica que, desde a noite dos tempos, convoca os espíritos para a celebração da beleza musical em estado puro, patente na magnitude de cada nota, célula e fragmento temporal.

    Cecil Taylor & Tony Oxley transportam a Música, enquanto arte, a estados superiores de transparência e de transcendência tais que, mais puro que o seu som, só o silêncio absoluto. E esse, sabemos, é impossível.

    Eduardo Chagas

  • Resenha: Que grande noite de música aconteceu no Centro Cultural de Belém, neste ultimo dia 17 de Fevereiro.

    Começo com uma pergunta – quem é que disse que a água e o azeite não se misturam?

    Misturam sim senhor. E de que maneira.

    Vamos à água. Cecil Taylor, esse grande músico, pianista, compositor, percussionista, dançarino, poeta e performer transmite-nos a sua arte duma forma espontânea. A sua música é dificilmente qualificavel. Se na sua génese está o jazz, o que nos mostra do alto da sua infinita sabedoria é o resultado da mistura de várias semiologias, mais ou menos eruditas, que, na prática, resultam numa música intemporal, numa voz única, que traduz aquilo a que chamamos verdadeira música improvisada. São verdadeiras cascatas ou torrentes de água que jorram dos seus dedos, mãos e cotovelos sobre o seu veículo de expressão por excelência. O piano. E a água, como símbolo de pureza não poderia encontrar melhor paralelo ou melhor homenagem do que na música de Taylor. Porque a sua música é impoluta, pura e duma fluência incontronável. Tal como a água.

    É impressionante assistir a um dos seus concertos. Eu, saí deste ultimo arrasado, cansado e infinitamente apaixonado. E mais, pergunto-me quantas vezes mais terei eu a oportunidade, de assistir a uma experiência musical tão intensa. Tenho alguma esperança que a vitalidade da cena musical actual possa contradizer este meu momentâneo e circunstancial pessimismo. Desculpem-me, mas a ocasião não é para menos.

    Voltando ao concerto, este foi-nos apresentados em dois períodos de aproximadamente 45 minutos. Em ambos alternaram momentos de expressividade extrema, onde se reconhecia a influência que o misticismo do rito e a temporalidade do espaço mítico têm na música do artista, com momentos de introspecção, que convidam à oração, onde nos é revelado todo o lirismo existente na sua obra. Desengane-se quem pensa que a obra de Taylor é marcada única e exclusivamente pela improvisação caótica e desordenada. Uma apreciação deste género é extremamente redutora e injusta.

    Não se julgue que este concerto foi uma apresentação de piano solo.

    Falta o azeite. O tal que se mistura na perfeição com a agua. Falamos de Tony Oxley, esse enorme percussionista europeu que, para além das enormes capacidades como instrumentista, revela ser um ouvinte de grande categoria. Claro que quando falamos de água e azeite, usamos uma expressão idiomática que pretende estabelecer analogias para diferentes origens e diferentes aprendizagens. Taylor é um músico que sustenta a sua arte nas iconografias da música negra e Oxley tem a sua obra, e as semióticas adjacentes, ligada à livre improvisação europeia.

    Tony Oxley foi o suporte ideal para a musica do pianista. A sua música, experimental e subtil, conseguiu ser melódica quando o piano do mestre era percutido e conseguiu ser marcadamente rítmica quando do piano de Taylor saíam os registos mais líricos. Estaríamos a ser injustos para Cecil Taylor se disséssemos que Tony Oxley limitou a sua acção a seguir as coordenadas do primeiro. Não é verdade. Ouve retorno, ou seja, os músicos ouviram-se mutuamente e também o grande mestre seguiu o percussionista em várias ocasiões. E é assim que se notam as grandes cumplicidades musicais.

    Resumindo, a música de Cecil Taylor e Tony Oxley encheu de vida o grande auditório do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, numa noite que obrigatoriamente recordarei para o resto dos meus dias. Obrigado aos dois.

    João Pedro Viegas

  • Comentario: Está ya muy agotada la discusión sobre si lo que Cecil Taylor toca es jazz o música contemporánea. Otra cosa será, porque lo que desde hace décadas se conoce como la marca del maestro y, en particular, lo que se oyó en el Centro Cultural de Belém la noche del 17 de febrero de 2004, fue algo que se sale de los límites del jazz, un meta-jazz, si se quiere; pero, por otro lado, tampoco se enmarca dentro de los estrictos parámetros de la música contemporánea o de la nueva música. Diría que es un tercer género inclasificable, pese a los intentos de encasillarlo en tal o cual categoría, una tarea por otro lado estúpida.

    Cecil Taylor es descrito, casi siempre, como un músico de jazz. En mi opinión, el jazz es para la música de Taylor como el latín para las actuales lenguas latinas. Esto es, está en sus fundamentos, en la estructura, en la sangre que circula por sus venas, en el ritmo interior, en la respiración, y más presente de lo que se ve; está asimismo en cierto vocabulario y en la articulación expresiva. Sin embargo, en la raíz, el cuerpo y el espíritu, en los más recóndito de su ser, de lo que se trata es de música improvisada total, en lo que tiene de reflejo en el momento presente y en el más remoto atavismo.

    Fue una música al mismo tiempo temporal e intemporal –en el doble sentido de que en ella cabe la totalidad del tiempo y que no pertenece a ningún tiempo- la que nos ofrecieron Taylor y Oxley en una creación directa, inmediata y espontánea. Una música tensa y ritual, música sacra de culturas tribales imaginarias, que pueden ser tanto del pasado como del futuro.

    El concierto, dividido en dos sets de tema único y cuya duración me pareció ser próxima a los 45 minutos cada uno (me resulta difícil calcular, porque llegó un momento en que perdí la noción del tiempo), a lo que se sumó un breve bis, nos mostró a dos creadores de comprobado e incuestionable virtuosismo técnico, en excelente forma física y creativa.

    Taylor hizo un uso intensivo de sus inagotable recursos pianísticos, con los característicos clusters de acordes disonantes, en un permanente discurso atonal, fuertemente percusivo, que ascendía a cimas de intensidad emocionalmente opresiva o bien se relajaba, distendido en breves momentos de contenido lirismo poético, libertario y hechizante.

    En el lado derecho del escenario, en absoluta compatibilidad, Tony Oxley, icono del experimentalismo y de la free improv británica, respondía de forma densa y polirrítmica, cubriendo el resto del lienzo con los colores personales de su kit. Produjo las más exquisitas sonoridades, dispuestas en capas de ritmo y melodía, llenas de detalle y riqueza de timbres y texturas, proporcionando a Taylor el clima perfecto para escribir y reescribir sobre él páginas y más páginas de la más deslumbrante improvisación libre.

    A todo esto se añadió el fantástico lenguaje corporal del dúo, como si los músicos realizasen un baile de movimientos libres, una danza mágica que, desde la noche de los tiempos, convoca a los espíritus para celebrar la belleza musical en estado puro, patente en la magnitud de cada nota, célula y fragmento temporal.

    Cecil Taylor y Tony Oxley trasladan la Música, en tanto que arte, a estados superiores de transparencia y de trascendencia tales que, más puro que su sonido, sólo existe el silencio absoluto. Que, por otro lado, sabemos que es imposible.

    Eduardo Chagas traducción por Diego Sánchez Cascado

  • ¡Qué gran noche de música tuvo lugar en el Centro Cultural de Belém el pasado 17 de febrero!

    Comienzo con una pregunta: ¿Quién ha dicho que el agua y el aceite no se mezclan?

    Se mezclan, sí señor. Y de qué manera.

    Vayamos con el agua. Cecil Taylor, ese gran músico, pianista, compositor, percusionista, bailarín, poeta y performer nos transmite su arte de una manera espontánea. Su música es difícil de calificar. Si en su génesis se encuentra el jazz, lo que nos muestra desde lo alto de su infinita sabiduría es el resultado de la mezcla de varias semiologías, más o menos eruditas que, en la práctica, dan como resultado una música intemporal, una voz única que traduce aquello que denominamos verdadera música improvisada. Son verdaderas cascadas o torrentes de agua que brotan de sus dedos, manos y codos sobre su vehículo de expresión por excelencia, el piano. Y el agua, como símbolo de pureza, no podría encontrar mejor paralelo o mejor homenaje que la música de Taylor. Porque su música es impoluta, pura y de una fluidez incontrolable. Igual que el agua.

    Resulta impresionante asistir a uno de sus conciertos. Y yo salí de este último aniquilado, cansado e infinitamente apasionado. Es más, me pregunto cuántas veces tendré la oportunidad de asistir a una experiencia musical tan intensa. Tengo alguna esperanza de que la vitalidad de la escena musical actual pueda contradecir mi momentáneo y circunstancial pesimismo. Discúlpenme, pero la ocasión no era para menos.

    Volviendo al concierto, éste nos fue presentado en dos partes de alrededor de 45 minutos cada una. En ambas se alternaron momentos de una expresividad extrema, donde se reconocía la influencia que el misticismo del rito y la temporalidad del espacio mítico tienen en la música del artista, con momentos de introspección, que invitan a la oración, donde nos es revelado todo el lirismo existente en su obra. Se equivoca quien piense que la obra de Taylor está marcada única y exclusivamente por la improvisación caótica y desordenada. Una apreciación de este género es sumamente reduccionista e injusta.

    Tampoco hay que pensar que este concierto fue a piano solo.

    Falta el aceite, aquel que se mezcla perfectamente con el agua. Hablamos de Tony Oxley, ese enorme percusionista europeo que, además de sus enormes capacidades como instrumentista, demuestra ser un oyente de gran categoría. Claro que cuando hablamos de agua y aceite, usamos esta expresión idiomática que pretende establecer analogías para diferentes orígenes y aprendizajes. Taylor es un músico que sustenta su arte en las iconografías de la música negra y toda la obra de Oxley, así como las semióticas adyacentes, está vinculada a la libre improvisación europea.

    Tony Oxley fue el soporte ideal para la música del pianista. Su música, experimental y sutil, logró ser melódica cuando el piano del maestro era percutido y consiguió ser marcadamente rítmica cuando del piano de Taylor surgían los registros más líricos. Seríamos injustos con Cecil Taylor si dijésemos que Tony Oxley limitó su actuación a seguir las coordenadas del primero. No es cierto. Hubo “retorno”, es decir, los músicos se escucharon mutuamente y el gran maestro también siguió al percusionista en varias ocasiones. Así es como se notan las grandes complicidades musicales.

    En resumen, la música de Cecil Taylor y Tony Oxley llenó de vida el grande auditorio do Centro Cultural de Belém, en Lisboa, en una noche que seguro recordaré durante el resto de mis días.

    Muchas gracias a ambos.

    João Pedro Viegas traducción por Diego Sánchez Cascado